quinta-feira, 2 de novembro de 2017

FOLCLORE: O PROBLEMA ESTÁ NA PALAVRA OU EM QUEM A DIZ?

A palavra folclore é uma daquelas palavras que instiga os mais diversos sentimentos. Para uns é sinónimo de cultura histórica de um povo e de sabedoria popular, para outros, serve apenas para descrever uma situação ridícula, de floreados duvidosos, sempre com uma tonalidade de escárnio e mal dizer.

Poderia divagar sobre a etimologia da palavra mas penso que isso não serviria de muito. O dicionário diz-nos os sinónimos das palavras mas não nos ajuda na aplicação certa das palavras, essa caberá́ somente a cada um. Penso que a verdadeira base da distinção da utilização da palavra “folclore” fundamenta-se num só conceito: cultura ou falta dela.Com bastante regularidade ouvimos dizer “aquele debate mais não foi do que um folclore” ou “eles fazem daquilo um folclore”... mas saberão na realidade o que é “um folclore”? Ou limitam-se a assumir que “mais um folclore” é apenas mais uma “fantochada” ou “invenção”, uma situação ridícula? É esta a imagem que grande parte dos portugueses têm do folclore? Apenas “o ridículo”? Eu prefiro acreditar que não. Apesar de tudo, prefiro acreditar que há ainda um grande grupo de pessoas que sabe que folclore é mais do que uma palavra utilizada negativamente, mas sim, a raiz de um povo, a sua história, os saberes dos seus antepassados hoje reproduzidos com mais ou menos fidelidade.

Honestamente penso que este raciocino não está acessível a qualquer um. Da mesma forma que somos constantemente descritos como “parolos” por estarmos ligados ao folclore, uma actividade cultural histórica que dignifica a memória do nosso povo e do nosso passado, posso também descrever as pessoas que utilizam a palavra “folclore” com sentido pejorativo, como pessoas de cultura e horizontes limitados. A cultura não se baseia apenas em literatura estrangeira, em visualizações de peças de teatro, ballet ou de ópera ou visitas a galerias de artes contemporâneas. Nos dias que correm, qualquer uma destas actividades seria de carácter “chique” e digna de uma pessoa erudita. Já́ o folclore... “Deus me livre! Que parolice!”, como diria o típico português...Bom, e por isso eu pergunto: o problema está na palavra ou no seu utilizador?

Ora, se folclore (tendo a sua base etimológica em “sabedoria popular”) é a consagração dos usos e costumes dos nossos antepassados - dos nossos avós, bisavós ou trisavós -, se quem propaga e protege esta actividade em vias de extinção, devido à falta de cultura educacional é apelidado de “parolo”, então, o que são os outros que lhes chamam isso? Eruditos ou Incultos?

Mas penso que mais engraçado (ou não) do que isto, é o facto desses mesmos “eruditos” serem capazes de aplaudir com vigor, um espectáculo estrangeiro repleto de saltos acrobáticos ou cantos melodiosos. Traduzindo: folclore de outros países.

Por isso, como dizia o outro: “E o burro sou eu?!”
Texto de;

Grupo Folclórico Dr. Gonçalo Sampaio

Manuela Sá Fernandes.

 No; 
Correio do Minho 27 de Janeiro de 2015

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